segunda-feira, 1 de abril de 2013

Pedro Sevylla de Juana - Dos poemas




                               Para Ester Abreu, à beira linha, em Muqui

Aquí y allá, el hombre es uno

En los remotos tiempos, el Dios de las Cosechas,
cuando no existía aún la especie humana,
de cada región deshabitada de la Tierra
recogió el grano cereal que cultivaba.

Sumó arroz, trigo y avena
maíz y sorgo unió al centeno
simientes de todas procedencias
llevó al molino más de ciento;
harina tamizada en uniforme mezcla
amasada y sometida a vivo fuego
hasta tostar por completo la corteza.

Del resultante pan recién cocido
un pedazo retornó a cada comarca
del cual proviene el hombre primitivo:
igual composición, distinta estampa.

Sea faz el hombre o sea espalda
rígido cuscurro o blanda miga
el color es lo único que cambia
la sustancia humana no varía.



Aí, aqui, ali, lá e acolá; o homem é um

Nos remotos tempos, o Deus das Colheitas,
quando ainda não existia a espécie humana,
de cada região desabitada da Terra
recolheu o grão do cereal que cultivava.

Somou arroz, trigo e aveia,
milho e sorgo uniu ao centeio,
sementes de todas procedências,
levou ao moinho mais de um cento;
farinha tamisada em uniforme mescla,
amassada e submetida a fogo lento,
até torrar bem a camada externa.

Do resultante pão recém-cozido,
um pedaço retornou a cada comarca,
do qual provém o homem primitivo:
igual composição, distinta estampa.

Seja face o homem ou seja costas,
rígida crosta ou suave miga,
a cor é o único que troca,
a substância humana não varia.







La muerte de la Utopía

Hoy, cuando la esperanza es tan efímera
y vive en desencanto diluida,
¿quién ofrecerá un futuro codiciado
si muere la Utopía?

¿Quién descubrirá la poesía,
vedija entre las zarzas,
velero de papel a la deriva?
¿Quién pondrá imaginación en las pintadas
-ingenio de las frases-
que derribe barreras y murallas?

¿Por qué razón edificante
la policía hostigará a los jóvenes,
qué gestas relatarán los abuelos a los nietos,
quién defenderá al pueblo
de la acción de los políticos,
quién restablecerá el equilibrio descompuesto
quién hablará de la persona
qué será de la palabra compañero
quién osará trazar camino propio
quién se opondrá a los intereses de los más interesados
qué será de la pluralidad de vías
quién estará de nuestro lado, si muere la Utopía?

¿Quién reducirá las insalvables diferencias
que separan halcones y palomas,
quién amará al hombre por su esencia quebradiza,
quién sembrará la paz, el perdón, la valentía;
el amor, la libertad, la convivencia,
si muere la Utopía?

¿Quién impedirá que den forma a nuestra arcilla
en moldes inhumanos,
los que hacen herramientas de las vidas;
quién acogerá las excepciones,
quién será de lo diverso garantía?

¿Quién nos librará de la ortodoxia,
quién nos sacará de la estadística,
quién sobrevivirá al sistema, si muere la Utopía?



A morte da Utopia

Nos tempos presentes
quando a esperança é tão efêmera
e vive em desencanto diluída,
quem oferecerá um futuro cobiçado
se morre a Utopia?

Quem descobrirá a poesia
flor entre as sarças
veleiro de papel à deriva?

Quem porá imaginação nos grafitos
- engenho das frases -
que derrube barreiras e recintos?

Por que razão edificante
a polícia fustigará os jovens,
que façanhas relatarão os avôs aos netos
quem defenderá o povo da açâo dos políticos
quem restabelecerá o equilíbrio descomposto
quem falará da pessoa
que será da palavra companheiro
quem ousará traçar caminho próprio
quem se oporá aos interesses dos mais interessados
que será da pluralidade de vias,
quem estará de nosso lado
se morre a Utopia?

Quem reduzirá as insuperáveis diferenças
que separam falcões de pombas,
quem amará do homem a sua essência quebradiça
quem semeará a paz, o perdão, a valentia
o amor, a liberdade, a convivência
se morre a Utopia?

Quem impedirá que dêem forma à nossa argila
em moldes inumanos
os que fazem ferramentas das vidas?

Quem acolherá as exceções
quem será do diverso garantia
quem nos livrará da ortodoxia
quem nos tirará da estatística,
quem sobreviverá ao sistema
se morre a Utopia?


Do livro de poemas “Elipse de los Tiempos” 2012 (Tradução feita pelo autor)



Pedro Sevylla de Juana nasceu em plena agricultura, lá onde se juntam A Terra de Campos e O Cerrato, Valdepero, província de Palencia em Espanha; e a economia dos recursos à espera de tempos piores ajustou o seu comportamento. Com a intenção de entender os mistérios da existência, aprendeu a ler aos três anos. Para explicar as suas razões, aos doze iniciou-se na escrita. Cumpriu já os sessenta e seis, e transita a etapa de maior liberdade e ousadia; obrigam-lhe muito poucas responsabilidades e sujeita temores e esperanças. Viveu em Palencia, Valladolid, Barcelona e Madrid; passando temporadas em Genebra, Estoril, Tánger, Paris e Amsterdão. Publicitário, conferencista, tradutor, articulista, poeta, ensaísta e narrador; publicou vinte e dois livros e colabora com diversas revistas da Europa e América, tanto em língua espanhola como portuguesa. Trabalhos seus integram seis antologias internacionais. Reside em El Escorial, dedicado por inteiro às suas paixões mais arraigadas: viver, ler e escrever. www.sevylla.com




Nenhum comentário: